Níveis gramaticais de insanidade


A demência que tomou conta da nação nos últimos meses e que se adensou depois do primeiro turno das eleições atingiu níveis gramaticais esta semana. Depois que o jornalista Ricardo Amorim facebookeou a [coloque seu adjetivo aqui] frase "Quem estuda, não vota na Dilma", algumas pessoas contra-atacaram dizendo, em linhas gerais, que a vírgula estava mal colocada. (E eu não usei o verbo atacar à toa). Mas não é bem assim que funciona, nem a política nem a gramática.

O erro reside mais no preconceito e na generalização do que propriamente no uso da vírgula. Então vou emular o manifestante contra tudo isso que tá aí e desmentir o jornalista, porque eu estudo, e quem o "corrigiu", explicando por que a vírgula tem o direito de estar ali no meio.


Bueno, nós temos aí um período composto por duas orações: Quem estuda e não vota na Dilma. A primeira delas é uma oração subordinada adjetiva restritiva, e a maioria das gramáticas, lá no capítulo de pontuação, vai proibir o uso de vírgula para isolar esse tipo de oração, ao contrário do que acontece com as adjetivas explicativas.

Porém existe uma coisa chamada estilo e outra chamada ênfase. Se eu quisesse ter usado uma vírgula depois do porém que inicia o período anterior, pra enfatizar seu sentido, eu poderia. É a famosa pausa dramática. E há gramáticos que registram e defendem esse uso. Há gramáticas que usam exemplos de vírgula até entre sujeito e verbo. Tudo vai depender do estilo e da intenção de quem está escrevendo o texto.

Duvido bastante que o jornalista tenha pensado na questão da ênfase antes de colocar a vírgula ali, mas não há nada de errado com ela, e sim com o que o motivou a escrever a frase e com tudo que envolve esse delírio generalizado.

Fontes:

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. rev., ampl. e atual. conforme o novo Acordo Ortográfico. - Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2009.

SACCONI, Luiz Antonio. Nossa Gramática : Teoria e Prática. 18. ed. reform. e atual. - São Paulo : Atual, 1994.

P.S.: esses eleições me fizeram recorrer à ABNT. Tá demais. Tá demais. Já deu.

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