Exército ideológico virtual



Há dois anos, eu estava numa cidade do interior do Ceará chamada Viçosa do Ceará (na serra da Ibiapaba, friozim, vinhozim) para assistir a um festival chamado Mel, Chorinho e Cachaça. Em uma das noites do festival, apresentou-se o grupo Choro das Três, de São Paulo. No dia seguinte, houve um bate-papo com as integrantes do grupo. Uma delas, então, comentou que, quando recebeu o convite pra tocar aqui no Ceará, principalmente numa cidade do interior, ficou receosa. Isso porque o Ceará, principalmente o interior, pra ela, era uma terra seca, inóspita, sem condições de abrigar nem seus próprios habitantes, quanto mais um festival de música. E ela tinha essa imagem do Ceará porque, segundo ela, lá no Sudeste o Ceará é retratado assim. A TV, a internet, o cinema fazem com que essa ideia se enraíze na concepção do que é o Ceará, e o Nordeste em geral.


Outra região estereotipada pela mídia é o Oriente Médio. Quando se ouvem essas duas palavras, pensa-se logo em bombas explodindo metrôs e ônibus europeus, suicidas, fuzis Kalashinikov, homens exaltados, 72 virgens, mulheres com véu e areia, muita areia. E isso é, também, algo vendido pela indústria cultural. É mais cômodo fazer com que o Ocidente tenha essa imagem, para que as ações dos países interessados nas riquezas naturais das nações médio-orientais sejam justificadas como para a manutenção da paz. Assim como é mais cômodo para o Brasil oficial ter a imagem de miséria do Nordeste (não é, dona Dilma?). E olha que isso rende até Nobel da Paz e eleição pra presidente(a).

Agora o que me incomoda bastante é o descaramento com que isso às vezes é feito. Vamos lá: eu estou tentando traduzir meus contos para o inglês. E o Google tradutor tem sido de grande ajuda. Até agora deu tudo certo. O Google até que é inteligente. Mas aí aconteceu o seguinte: em um dos contos (intitulado "Porque Deus também erra"), há esta frase: "... porque Deus também trapaceia". O Google tradutor traduziu desta maneira: "Allah also cheats". Mas se você puser apenas "Deus", aparecerá a tradução "God". E como sinônimos "Gum" e "Miserere". Então fica a pergunta: por que "Deus" sozinho é "God" e "o Deus que trapaceia" é "Allah"? O pouco que eu sei de inglês e de história é o suficiente pra eu perceber que há uma militância anti-islâmica aí.

Tá pensando que eu sou o quê, ô seu Google?

1 comentários:

  1. eu spi do norte tbm conheço a realidade do que um sulista vê e imagina que seja o norte e nordeste

    ResponderExcluir