(Meus) 12 livros essenciais da Literatura brasileira


Francesca me pediu que eu fizesse uma lista de livros obrigatórios da Literatura brasileira, já que ela não conhecia nada da nossa literatura, embora gostasse do que era produzido no resto do continente. Como eu tenho um caso de obsessão amor com listas, larguei o que estava fazendo naquele momento e escolhi 12 obras de autores brasileiros, dentre as que eu já tinha lido.

Avisos aos navegantes: 1) a lista é baseada no meu gosto pessoal; 2) alguns títulos passam (bem) longe do cânone; 3) a ordem é cronológica.

Vamos a ela!

1. Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis, 1881

O clássico dos clássicos. Escrito pelo autor mais importante da nossa literatura, esse livro conta a história de um aristocrata que viveu na hipócrita sociedade carioca do século XIX. É uma maneira revolucionária de narrar uma história, já que o narrador e personagem principal está morto, então ele pode criticar a sociedade sem ser punido por ela. De vez em quando, eu revisito esse livro e a experiência é sempre completamente diferente da anterior. E o que eu gosto mais é a ironia. Somente Machado seria capaz de escrever frases como "Marcela amou-me por quinze meses e onze contos de réis; nada menos" no fim do século XIX.



2. O Cortiço, Aluísio Azevedo, 1890

Marco inicial da escola naturalista na Literatura brasileira, é uma obra é cheia de personagens. Mas o principal é o próprio cortiço. O autor está sempre tentando provar as teorias que conduziam o pensamento humano no final do séc. XIX, como Determinismo, Positivismo, Cientificismo. No entanto, o enredo é tão atraente que eu nem percebi que ele estava tentando fazer isso (pelo menos até começar a dar aula sobre ele). Fui completamente envolvido pelas histórias dos personagens e entrei na onda.




3. Vidas Secas, Graciliano Ramos, 1938

Foi pensado primeiramente como conto, mas depois o autor decidiu expandir e escrever um romance. Na verdade, você pode ler cada capítulo separadamente, como se fossem contos a respeito do mesmo tema. Só isso já torna o livro brilhante. Mas tem mais. Por ser uma obra modernista, as frases são curtas e diretas, elas são áridas, como a vida dos personagens e o ambiente em que vivem. É algo tão intenso que cheguei a ficar com sede quando li.




4. O Continente, Erico Verissimo, 1949

É a primeira (e a melhor) parte da trilogia intitulada O Tempo e o Vento, completada por O Retrato e O Arquipélago. O enredo trata da gênese do Rio Grande do Sul. Tendo a família Terra-Cambará como centro da narrativa, o autor narra fatos da história do estado, dos quais a família participa. É considerada o documento definitivo da origem do Rio Grande do Sul. Eu li os dois volumes d'O Continente em dez dias, só pra se ter uma ideia de como a obra é magnética.




5. A Hora da Estrela, Clarice Lispector, 1977

Os romances dela são difíceis de digerir. Eu prefiro os contos. Mas desse romance, especificamente, eu gostei muito. Talvez porque ele seja bem curto e o enredo seja mais claro que dos outros romances. Digo isso porque ela é adepta do fluxo de consciência, aí, se você não estiver completamente concentrado na leitura, você se perde facilmente. Claro que nem sempre o enredo é o ponto principal de uma obra, mas às vezes você quer saber aonde está indo, e como ela escreve principalmente sobre sensações, normalmente o enredo é apenas uma moldura. A vantagem é que você se depara constantemente com frases lindas, como "Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida".




6. 1968: O Ano que Não Terminou, Zuenir Ventura, 1989

Quatro anos após o fim da ditadura militar no país, Zuenir Ventura lançou o livro em que descreve acontecimentos do ano-chave do regime: 1968. O começo é um pouco confuso, mas depois, à medida que somos apresentados a vários setores da sociedade, o quebra-cabeça começa a ficar mais claro. É um livro-documentário sobre como músicos, dramaturgos, cineastas, estudantes lutaram pela democracia, mas foram derrotados pelo que é conhecido como "o golpe dentro do golpe", o Ato Institucinal nº 5.

7. O Xangô de Baker Street, Jô Soares, 1995

Jô Soares é um multiartista. Ele escreve peças, roteiros de cinema, já foi ator, diretor, tem um talk-show há 30 anos e - por que não? - escreve romances também. Nesse romance, ele mistura personagens reais e fictícios. O enredo se passa no Rio de Janeiro do fim do século XIX, quando começam a acontecer uns crimes estranhos na cidade. Então, o imperador D. Pedro II convoca ninguém mais, ninguém menos que Sherlock Holmes pra resolver o caso. Quando chega ao país, o inglês se apaixona por uma mulata, fuma maconha, prova vatapá e feijoada e tudo vira uma grande comédia. Além disso, somos apresentados a algumas personalidades artísticas do período, como a pianista Chiquinha Gonzaga e o poeta Olavo Bilac.




8. Desmundo, Ana Miranda, 1996

Logo após a chegada dos portugueses ao Brasil, a coroa enviou várias órfãs para se casarem com os colonizadores, a fim de evitar que eles continuassem a manter relações sexuais com as índias (o que obviamente não aconteceu). Mas uma dessas garotas se apaixona por um judeu. Agora imaginem uma garota cristã apaixonada por um judeu em pleno início de século XVI! A linguagem usada é um pouco difícil, já que a autora tenta recriar o português arcaico falado à época. Porém parece poesia e eu nem percebia o passar das páginas. Bônus: ela é cearense.



10. O Clube dos Anjos, Luis Fernando Verissimo, 1998

Esse livro é parte da coleção Plenos Pecados, que reúne sete obras, uma para cada pecado capital. Talvez a obra mais famosa entre as sete seja A Casa dos Budas Ditosos, que trata da luxúria e de autoria de João Ubaldo Ribeiro. Mas esse de que falo é sobre a gula. Embora o assunto seja meio sério, o livro é hilário, o que torna a leitura agradável e rápida. O estilo envolvente do autor é fruto do seu gênero literário preferido, a crônica.

11. O Cheiro do Ralo, Lourenço Mutarelli, 2002

Desde o título, esse livro é intrigante. Ele conta a história de um homem incomum: misantropo, solitário e cínico. Ele é proprietário de um tudo-usado e usa sua posição pra humilhar as pessoas que precisam vender suas coisas. Atenção: não as pessoas que querem vender, mas as que precisam vender. O livro foi escrito durante um Carnaval (ou não) e às vezes encontramos versos em vez de texto em prosa. O autor já era conhecido por sua produção em quadrinhos, o que torna seu estilo literário extremamente visual. Vejam também o filme, que é espetacular.



12. Budapeste, Chico Buarque, 2003

Eu tinha acabado de voltar de Budapeste, aí decidi ler esse livro. E logo de cara ele me disse uma verdade: "Budapeste é amarela". O enredo é interessante, mas não acho que seja muito bem conduzido. Mesmo assim, é legal acompanhar o José da Costa tentando aprender húngaro, "a única língua que o diabo respeita". Meu trecho favorito é quando ele diz "Branca, branca, branca. Linda, linda, linda. Meu vocabulário era pobre".




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