Secos & Molhados, Secos & Molhados, 1973


Esse é o melhor de todos. É apenas o quinto, mas eu já sei. Quem não me deixa mentir é a Aline Duarte (a única pessoa que eu permito chamar o Ney Matogrosso de Ney apenas), embora seja uma testemunha suspeitíssima pra falar, já que é fã. Mas é isso. O baixo do começo de “Sangue Latino” é muito convidativo. Na semana em que escutei (de 18 a 24 de agosto de 2011) nem tanto, mas agora que estou na Colômbia, faz todo sentido. Foi uma semana curta, enfim. Nessa época, eu estava em um momento meio revolucionário, contra o sistema. E esse disco é perfeito pra alimentar um espírito assim.

Como eu escutava no carro, na maioria das vezes eu estava ou indo para o trabalho ou voltando de lá. E ir ao trabalho ou voltar dele escutando versos de “O patrão nosso de cada dia”, sempre pelo mesmo caminho, pira a cabeça do indivíduo, principalmente se o indivíduo for eu. A música que segue é “Primavera nos Dentes”, que tem um solo estilo Pink Floyd de 2'51'' e depois entram as vozes entoando um poema digno de um Ferreira Gullar na época do Poema Sujo que diz “Quem tem consciência para ter coragem/ Quem tem a força de saber que existe”. Então eu continuei na minha luta silenciosa contra o sistema, que se resumia basicamente a ficar quieto, mas sabendo que eu não era só um apertador de parafuso. O problema é estar rodeado de pessoas que se conformam em apertar os parafusos e só isso.

Há outras duas músicas que elegi entre as melhores simplesmente pela sonoridade, não necessariamente pela letra. Elas são “Amor” e “Prece Cósmica”. Não sei o que deu nesse baixista, mas ele estava, como se diz, “com o cão nos coro”.

Como o melhor a gente deixa pro final, “Fala” é a melhor música desse disco. E como esse é o melhor disco, então essa, teoricamente, é a melhor música de todas (teoricamente, se não o Brasil teria sido campeão em 82). A semana em que escutei esse disco foi a mesma durante a qual apareceu o famigerado outdoor com a desastrada frase “Tablet substitui livros”. E todo mundo falou sobre isso, mesmo que cochichando e mesmo que mudando o discurso dependendo do interlocutor pra preservar o emprego e a imagem. Mas, como diz a letra da música, “Eu só vou falar na hora de falar/ Então eu escuto”. Eu falei, enfim, no meu outro blog (você confere aqui). Não consegui um vídeo da época, mas consegui esse só com o Ney Matogrosso (30 anos depois) cantando. Espetacular.


Fala
(João Ricardo/Luli)

Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto
Se você disser
Tudo o que quiser
Então eu escuto
Fala
lá, lá, lá, lá, lá, lá. lá, lá, lá
Fala

Se eu não entender
Não vou responder
Então eu escuto
Eu só vou falar
Na hora de falar
Então eu escuto
Fala
lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Fala


FICHA

1. “Sangue Latino” (João Ricardo/Paulinho Mendonça)
2. “O Vira” (J. Ricardo/Luhli)
3. “O Patrão Nosso de Cada Dia” (J. Ricardo)
4. “Amor” (J. Ricardo/João Apolinário)
5. “Primavera nos Dentes” (J. Ricardo/J. Apolinário)
6. “Assim Assado” (J. Ricardo)
7. “Mulher Barriguda” (J. Ricardo/Solano Trindade)
8. “El Rey” (Gerson Conrad/J. Ricardo)
9. “Rosa de Hiroshima” (G. Conrad/Vinicius de Moraes)
10. “Prece Cósmica” (J. Ricardo/Cassiano Ricardo)
11. “Rondó do Capitão” (J. Ricardo/Manuel Bandeira)
12. “As Andorinhas” (João Ricardo/C. Ricardo)
13. “Fala” (J. Ricardo/Luli)

1 comentários:

  1. Secos e Molhados é muito bom, eles ainda lançaram outro disco depois desse e anunciaram a sua separação logo em seguida, só o NEY Matogrosso continuou a carreira musical após o rompimento com o grupo. A proposta do conjunto é muito boa e a qualidade musical, ninguém duvida. Era um tempo em que os artistas levavam a arte a sério.

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