Chega de Saudade, João Gilberto, 1959


“Bim Bom”. Uma música com esse título não me empolga, e é por esse tipo de coisa (e por outros motivos) que não sou muito de Bossa Nova. Então a semana desse disco, de 11 a 17 de agosto, foi bem longa. Esse é mais um dos vários discos de que vou falar aqui mais porque está na lista do que porque eu gostei. Assim como o disco da semana anterior, não nego este, só não entraria na minha lista de favoritos. No filme Os Desafinados (um dos vários momentos de homenagem aos 50 anos da Bossa Nova), um dos personagens, interpretado pelo Selton Mello, diz o que o incomoda na Bossa Nova: “… é sempre um banquinho, um barquinho, é muito inho”, piada que eu, o Gladson Caldas e o Thiago Minhoca incorporamos ao nosso repertório e que traduz meu sentimento quando a esse disco e à Bossa Nova em geral.

Mas em alguns pontos o disco me agradou – vou me reservar o direito de não falar da música-título porque já se falou demais dela (inclusive dos peixinhos, dos carinhos, dos beijinhos etc.). Os melhores versos do disco inteiro são “A dor é minha e me doeu/A culpa é sua, o samba é meu”, da música “Saudade Fez um Samba”, de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli. O samba é um lamento meio despeitado, como quem diz “você me fez sofrer, agora vou reclamar”.

A voz meio cansada do João Gilberto chega a ser engraçada às vezes, parece que é uma imitação dele mesmo, no estilo João Cláudio Moreno – por exemplo na música “Morena Boca de Ouro”, quando ele pronuncia “desacata”, com a boca meio fechada, e o som fica como se ele tivesse dito “desacâta”. Mas a proposta era justamente essa, não de ser engraçado, mas de ir de encontro à voz empostada típica da música brasileira da época. João Gilberto está para a MPB como o Humphrey Bogart está para o cinema, no sentido de não ser galã.

E a música que soa como um manifesto da Bossa Nova é “Desafinado”, de Newton Mendonça e Tom Jobim. “Isto é Bossa Nova/Isto é muito natural” resume a ideia central da música. Eu canto assim e pronto. Embora pareça uma música de amor, na verdade é a voz de uma nova geração de artistas dizendo a que vieram. Abaixo o vídeo e a letra dessa música, que é genial (para citar Carla Anaile), embora o todo do disco não a acompanhe.


1. “Chega de Saudade” (Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes)
2. “Lobo Bobo” (Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli)
3. “Brigas, Nunca Mais” (Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes)
4. “Hô-bá-lá-lá” (João Gilberto)
5. “Saudade Fez Um Samba” (Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli)
6. “Maria Ninguém” (Carlos Lyra)
7. “Desafinado” (Newton Mendonça, Antonio Carlos Jobim)
8. “Rosa Morena” (Dorival Caymmi)
9. “Morena Boca de Ouro” (Ary Barroso)
10. “Bim Bom” (João Gilberto)
11. “Aos Pés da Cruz” (Marino Pinto, Zé da Zilda)
12. “É luxo só” (Ary Barroso, Luiz Peixoto)

1 comentários:

  1. Naquela turma da Bossa-nova ninguém tinha talento vocal,então eles inventaram o conceito de que menos é mais.Uma coisa é a pessoa não cantar como Ângela maria e Cauby Peixoto por opção estética,e outra, é não cantar em alto e bom som porque não tem alcance.

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