A Tábua de Esmeralda, Jorge Ben, 1974


Se não fosse o Secos & Molhados (da semana anterior), este disco seria sério candidato a melhor da lista. O ritmo meio indefinido é muito bom de escutar. E a voz do Jorge Ben também, principalmente quando parece que ele está chorando, é uma mistura de engraçado com talentoso, não sei direito. E apesar de ter aquele sotaque carioca pelo qual já declarei publicamente minha aversão, seus chiados me soaram convidativos e resolvi absolvê-lo desta característica fonoaudiológica.

A letra de algumas músicas são um tanto herméticas e, segundo li, essa era a intenção, porque é um disco alquímico (palavras do autor) e a alquimia é hermética. Esse é um dos poucos discos que gostei de todas as músicas (seja pelo ritmo, seja pela letra), portanto vou relacionar aqui apenas algumas e falar sobre elas.

Primeiramente, “Errare Humanum Est”, a preferida. Esta seria a música cujo vídeo eu linkaria, mas não encontrei. A letra dessa música é espetacular. A canção levanta a possibilidade de a Terra ter sido habitada por ser extraterrestres em tempos muito antigos. E faz isso considerando nossa curiosidade por explorar espaço. É pra refletir.

Em seguida, “Menina Mulher da Pele Preta”. Acho o título tão forte e tão sincero. Principalmente hoje que há essa onda de bom-mocismo ridícula que faz com que nós não possamos falar nada sem que usemos um termo técnico, frio e mecânico, e esse título e a música toda (música e letra), são um tapa na cara de quem não pode ouvir a palavra Preto, ou Negro e pensa logo em processo. Dedico-a a todas as meninas mulheres da pele preta que conheço, especialmente Jamille Morais, Karen Fernandes e Greice Nascimento.

Outra canção muito linda e em certo sentido difícil de entender seu significado é “Magnólia”. A metáfora dos versos “Já consultei os astros/ Ela chega na primavera/ Ela já se encontra a caminho/ Voando numa nave maternal doirada” me agradou muito, pois, embora não saiba qual foi a verdadeira intenção do autor, entendi que a nave seria o ventre de uma mulher grávida. E eu tenho uma coisa com músicas para filhos.

Um manifesto afro-brasileiro é “Zumbi”. E embora a letra seja muito triste, pois trata da escravidão, de uma princesa acorrentada trazida num carro de boi, o ritmo traz a alegria africana. Os versos “Vendo a colheita do algodão branco/ Sendo colhidos por mãos negras” é o mais bonito do disco, pelo simbolismo.

Por fim, a música que abre o disco, “Os Alquimistas Estão Chegando”. Eu gosto de discos que começam assim, com um instrumento apenas. Ligar o carro de manhã e escutar esse ritmo dá até vontade de ir trabalhar. E a mini-fala do Jorge Ben no começo dá o tom irreverente do disco, pelo menos da maioria das músicas: “Salve! Não, não, senta, senta, não, não, senta, não, não… Tem que dançar dançando...”. A música é uma homenagem aos alquimistas e avisa ao ouvinte que é sobre esse assunto de que trata o disco. A seguir o vídeo e a letra dessa canção.


Os Alquimistas Estão Chegando
(Jorge Ben Jor)

Oh! Oh! Oh! Oh!

Os Alquimistas estão chegando
Estão chegando os Alquimistas...

Oh! Oh! Oh! Oh!
Êh! Êh! Êh! Êh!...

Eles são discretos e silenciosos
Moram bem longe dos homens
Escolhem com carinho a hora e o tempo do seu precioso trabalho...
São pacientes, assíduos e perseverantes
Executam segundo as regras herméticas
Desde a trituração, a fixação, a destilação e a coagulação...
Trazem consigo, cadinhos, vasos de vidro, potes de louça
Todos bem e iluminados
Evitam qualquer relação com pessoas de temperamento sórdido
De temperamento sórdido

Êh! Êh! Êh! Êh!

Os Alquimistas estão chegando
Estão chegando os Alquimistas...
Oh! Oh! Oh! Oh!

FICHA

1. Os Alquimistas Estão Chegando
2. O Homem da Gravata Florida
3. Errare Humanum Est
4. Menina Mulher da Pele Preta
5. Eu Vou Torcer
6. Magnólia
7. Minha Teimosia, Uma Arma para te Conquistar
8. Zumbi
9. Brother
10. O Namorado da Viúva
11. Hermes Trismegisto e sua Celeste Tábua de Esmeralda
12. 5 minutos

7 comentários:

  1. Felipe, conheci o blog via Érica. A partir lista da RS, a criação do blog para ouvir e analisá-las é uma boa. A chamada inicial já é um divisor de águas "se procuras analíses técnicas e imparciais...saia daqui." Em algumas análises vc demonstra uma certa impaciência com unaminidades e os "novos los hermanos" tipo Teatro Mágico, Jeneci, Aí, bateu uma curiosidade, o que escuta e gosta o Felipe? Talvez dê pra fazer no blog as duas coisas: analise da lista da RS e o que anda rolando no som do Felipe.

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    1. Ao longo da lista, vão aparecer discos de bandas/artistas de que eu sou fã incondicional, como Raul Seixas e os próprios Los Hermanos. Mas, enquanto perceber relações entre o que escuto normalmente e os discos da listas, vou falar delas, como falei dos Beatles em outro post. Obrigado pela leitura e pelos comentários. Toda segunda tem post novo. Abraço.

      P.S.: se puder, divulgue!

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  2. Caro Filipe Teixeira Vieira - desculpe a intimidade no comentário anterior. Marcus Vinicius

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  3. Esse disco é lindo! Não lí o post do secos e molhados ainda, mas o disco deles que tem mulher barriguda tb é lindo! (se é que eles não têm só 1 disco, sei lá...), mas efim, esses discos são a cara da época da faculdade (acho que pra várias pessoas que passam por essa mesma época, deve ser um perfil, pq tem várias mesmo), e tinha mais alguns que rodavam "no último", que era o transa, cinema transcendental e jóia do caetano. é, vendo agora eu praticamente só ouvia caetano, hehe.

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    1. O Transa eh o decimo disco da lista. Eh lindo, como diria o proprio. Divulga o blog, beleza? Bisous.

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  4. Esse disco, em especial, tem algo que embala os ouvidos. Assiti a um show do Jorge Ben Jor, hoje apenas Jorge Ben,e ainda me recordo da maravilhosa experiência de uma apresentação dele no Ceará Music há alguns anos atrás. É energia pura.

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