Os Mutantes, Os Mutantes, 1968

Mil novecentos e sessenta e oito é o Barcelona das datas. Tudo aconteceu nesse ano que, segundo o Zuenir Ventura, ainda está rolando. A música brasileira, além de ter produzido um disco como Tropicália ou Panis et Ciercenses, que é um dos melhores de todos os tempos, também produziu este d’Os Mutantes, que fizeram (junto aos outros tropicalistas) com a música o que o Movimento Antropófago fez pela arte em geral, misturando elementos típicos da música brasileira com elementos estrangeiros, como a guitarra elétrica e letras em inglês ou em francês.

Comecei a escutar esse disco com muita expectativa, e como sabemos, a expectativa é a mãe da decepção. Não sei se não gostei realmente do disco ou foi a vida, o universo e tudo mais que, combinados, me fizeram achar o disco meio sujo. Mas aí eu penso: Os Mutantes não iam fazer uma coisa bonitinha. A intenção era revolucionária, e essa revolução se deu na aparente anarquia dos instrumentos, da voz, dos temas etc.

(Não vou falar de “Panis et Circenses” porque já falei aqui).

Mas não estou aqui pra entender, estou aqui pra gostar ou não das músicas, então, a primeira música que me tocou foi “A Minha Menina”, que de cara você já sabe que quem compôs foi o Jorge Ben. Essa música é a bonitinha do disco, é a que você retira um ou dois versos e posta no mural do Facebook daquela menina. Em seguida, “Adeus, Maria Fulô” – composta por Humberto Teixeira, o verdadeiro Rei do Baião – que é uma “Asa Branca” com uma letra menor, mas que diz a mesma coisa. Ultimamente essas músicas que falam de alguém que vai embora dizendo que um dia volta, seja por qual for o motivo, têm representado muito mais do que antes.

“Baby” eu também já comentei aqui, mas essa versão traz a irreverência – como na lambida do sorvete – e a “sujeira” da guitarra d’Os Mutantes. “Bat Macumba” também já foi comentada neste blog. A letra é tudo que o Ferreira Gullar tentou fazer na fase neoconcretista dele, mas a versão do Gilberto Gil é bem mais limpa e melhor de escutar.

E por fim, a melhor de todas, “Tempo no Tempo”, versão de “Once Was a Time I Thought”, de John Phillips. A letra em inglês não tem muito a ver com a versão em português, a não ser pelas aliterações, mas a crítica ao ser humano é muito contundente, em relação ao fato de nós, talvez, não aproveitarmos o tempo que nos é dado (como diria o Gandalf) com algo que nos faça crescer como seres pensantes e não simplesmente girarmos em torno do nosso próprio eixo como peças de uma engrenagem conduzida por uns poucos. Não consegui um vídeo dessa música, mas você pode ouvi-la e acompanhar a letra logo abaixo.

Tempo no Tempo

(J. Phillips/ versão: Os Mutantes)

Há sempre um tempo no tempo em que o corpo do homem apodrece

E sua alma cansada, penada, se afunda no chão

E o bruxo do luxo baixado o capucho chorando num nicho capacho do lixo

Caprichos não mais voltarão

Já houve um tempo em que o tempo parou de passar

E um tal de homo sapiens não soube disso aproveitar

Chorando, sorrindo, falando em calar

Pensando em pensar quando o tempo parar de passar

Mas se entre lágrimas você se achar e pensar que está

A chorar; este era o tempo em que o tempo é

FICHA

1. “Panis et Circenses”  (Caetano Veloso/Gilberto Gil)

2. “A Minha Menina” (Jorge Ben)

3. “O Relógio” (Arnaldo Baptista/Rita Lee/Sérgio Dias)

4. “Adeus Maria Fulô” (Humberto Teixeira/Sivuca)

5. “Baby” (Caetano Veloso)

6. “Senhor F” (Arnaldo Baptista/Rita Lee/Sérgio Dias)

7. “Bat Macumba” (Caetano Veloso/Gilberto Gil)

8. “Le Premier Bonheur du Jour” (Frank Gerald/Jean Renard)

9. “Trem Fantasma” (Arnaldo Baptista/Caetano Veloso/Rita Lee/Sérgio Dias)

10. “Tempo no Tempo (Once Was a Time I Thought)” (John Philips - Versão: Arnaldo Baptista/Rita Lee/Sérgio Dias)

11. “Ave Gengis Khan” (Arnaldo Baptista/Rita Lee/Sérgio Dias)