E se você tivesse 3 mil reais sobrando?


Semana passada, um aluno meu estava com a camisa oficial da seleção brasileira. Ele disse oi e eu disse tá confiante pro jogo? Então ele me respondeu que não gostava de futebol, que só estava vestindo aquela blusa porque era da Nike, por ele era ligado em marcas, gostava de roupas, relógios, tênis, tudo de marca. Eu fiz uma cara de Ah! E ele me jogou a seguinte pergunta ao notar minha desaprovação: "Quer bem dizer que se o sr. tivesse 3 mil reais sobrando o sr. não comprava um casaco da Calvin Klein?"

(Aiaiai)

Primeiro de tudo: como assim sobrando?

Não sei se respondi que não ou se sequer respondi. Despedi-me e saí em direção à sala dos professores ávido por alguém que discordasse daquele aluno, sedento por um ser humano que se tivesse 3 mil reais não os gastasse com um casaco da Calvin Klein. Mas no meio do caminho, ou já no meu destino, dei-me conta de que, se eu tivesse 3 mil reais, eu gastaria com outra coisa: com livros, filmes, discos... quem sabe até uma roupa, mas gastaria com algo. Eu queria 3 mil reais pra gastar com algo.

Quem sou eu pra alcunhá-lo de consumista? A diferença básica entre mim e ele é que o gosto dele é diferente do meu. E não que o meu seja melhor... é apenas o meu. É que nós temos uma tendência (palavra recorrente) a achar que bom gosto é aquele parecido com o nosso.

O espírito do meu aluno estaria devidamente alimentado no momento em que ele pusesse seu casaco de 3 mil reais e ostentasse pra quem quisesse ver o CK no lado esquerdo do peito ou onde quer que fosse; assim como o meu estaria alimentado quando eu visse os cinco dvds da edição especial de 70 anos do ... E o vento levou ou lesse Em busca do tempo perdido, do Proust (e olha que ainda iam sobrar uns 2.500 reais com os quais eu não saberia o que fazer, ou saberia...).

Grande coisa. Ele ia ser o cara que tem o casaco da Calvin Klein! E todas as pessoas iam ficar ao redor dele dizendo oh! tu é o cara que tem o casaco da Calvin Klein de 3 mil reais! E eu seria o cara que ia ficar em casa vendo um filme e lendo um livro (um não, sete: Em busca do tempo perdido tem sete volumes) pra depois comentar com quem? Quem no mundo ia querer falar sobre isso? Se pelo menos eu tivesse um casaco da Calvin Klein...

P.S.: as fotos de casacos da Calvin Klein não eram nada interessantes se comparadas à escolhida e supra-apresentada.

6 comentários:

  1. Ah sim, agora um texto equilibrado. E a foto muito mais fudida.

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  2. com 3 mil reais eu tocava fogo no mundo...

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  3. Lipe, concordo plenamente contigo, ó! Bom saber que eu não sou um ser solitário nesse mundo! rsrsrsrs Também não faço questão de ter uma bolsa de R$ 1.500,00 da Carmen Steffens, mas me orgulho de ter os dois volumes das 1001 noites traduzidos diretamente do árabe! srsrsr Beijos! Saudade de tu!
    Manu

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  4. com três reais eu pagaria parte da guitarra que gostaria de ter, mas eu não sei tocar ainda. será futilidade da mesma forma do casaco acima referido?Talvez o objetivo seria diferente, ele usaria pra ser percebido, talvez. O instrumento seria uma forma de entender um pouco mais de música, ao aprender a tocar o mesmo. "Sei lá, sei lá"

    ps: não tenho coragem de dar 89 reais na camisa oficial do Ferroviário, apesar dos pesares.

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  5. eu compraria tudo de big big e colocaria tudo em um quarto fechado. pq? Sempre tive inveja do tio patinhas mergulhando nas moedas. Na minha cabeça mergulhar em moedas deveria dor e desde peqno fantasio em mergulhar numa piscina de bigbig. é mais macio!!!

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  6. Eu pensei justamente em livros,discos e filmes também,por que será que vaidade intelectual e vaidade com o visual ,quase sempre são incompatíveis?

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